terça-feira, 15 de janeiro de 2008

De maneiras que estou na Índia – Parte II

…mais propriamente em Goa. Toda a gente com quem eu falava dizia que se vais à Índia, tens de passar por Goa. Assim fiz. Durante a última semana, estivemos a trabalhar e a tentar preparar a viagem a Goa com uma agência de cá (Indiana portanto) chamada Make My Trip. Marcámos a viagem, os transferes e o Hotel.

Comecemos pela viagem. Uma vez que só temos um fim-de-semana por semana (que acho que por princípio, isto está mal, deveríamos ter um fim-de-semana, sim senhor, mas por dia, que é para não cansar muito) temos que aproveitar tudo quanto podemos. Surgiu assim a ideia de apanhar o primeiro avião de sábado, uma vez que estando nós a trabalhar até às 23h, 24h de cada dia, não nos dá oportunidade de viajar logo na sexta-feira, dá é para virmos na segunda-feira de manhã. Sendo assim, marcámos o avião para as 6.30. Mas temos de lá estar pelo menos uma hora e meia antes, e para lá estar a horas, temos de sair do hotel pelo menos outra hora e meia antes… Sendo assim teríamos que sair pelas 3.30. Nós na sexta acabámos de jantar era 1 da manhã. Conclusão, como é óbvio foi directa.

A companhia aérea, não só era Indiana como era Low Cost. Meu Deus, onde é que eu me meti… Low Cost Indiana. (Se tudo correr bem até ao fim das cinco semana, estou tentado a fazer uma ou outra t-shirt com dizeres tipo: Estive 5 semanas na Índia e sobrevivi, ou então: Andei numa Low Cost Indiana, e estou cá para contar a história…)

Meus amigos, tenho a dizer-vos que a Duncan (a tal companhia aérea) é capaz de ser melhor que a TAP. Pelo menos em termos de pontualidade, rapidez e assistência ao cliente, isso é de certeza. O avião era novo. Todo pintadinho, cadeiras impecáveis, tudo arranjado por dentro, sem aquele cheiro manhoso a brise, que os aviões nacionais têm sempre, como quem já fez 300 viagens de seguida, e como não têm tempo para arejar o veículo, passam brise a ver se disfarça. A única questão é que não tinha refeição (mas tinha uma garrafita de água Kingfisher (marca da cerveja oficial do país) bem catita.

Até aqui tudo bem. Chegados ao aeroporto lá estava o nosso guia/motorista com o nosso nome para nos levar ao hotel no seu jeep Toyota (Nesta terra só há 3 marcas de carros, a saber, Toyota, Tata e Honda) tudo o resto são peanuts. O transfer correu bem, de tão cansados que estávamos, foi tudo a dormir durante a hora que se demora entre o aeroporto e o hotel. (uma coisa curiosa é que aqui tudo demora uma hora. É o voo que demora uma hora, é a viagem até ao aeroporto que demora uma hora, tem que se estar no aeroporto uma hora antes, etc, etc, etc)

E pronto, foi no hotel de Goa, um tal de Marple Hotel, de 3 estrelas, que eu comecei a ter uma incontrolável vontade de ir para a minha rica casinha. Não por causa dos meus filhos e da minha mulher não senhor, mas por causa da nojeira que aquilo era… Muito mau. Eu tenho a nítida sensação que o hotel não muda os lençóis dos quartos desde que abriu, ou mesmo antes… Tal era a quantidade de nódoas na colcha, e o encardido das almofadas. Não tinha banheira, era daqueles onde se toma banho directamente para o chão. E não é que as inteligências, penduraram a mer… do papel higiénico mesmo ao lado do chuveiro. Se depois do banho quisesse largar o esquilo, ia limpar o traseiro com papel humedecido! Ou melhor, com bocados de pasta de papel.

E é aqui que entra outro momento alto do hotel. Eu confesso que sou um bocado menino da cidade quando toca a este tipo de coisas, chamem-me o que quiserem, mas seu sou assim e não me importo, e por isso antes de me sentar, para além de fazer a caminha em redor do tampo, pego num valente bocado de papel e esfrego violentamente o tampo, para não ter surpresas desagradáveis depois de sentar o real traseiro. Até aqui tudo bem, o problema foi que eu com a minha curiosidade mórbida, decidi virar o dito papel para mim. E foi aí que me deu o vómito seco… senhoras e senhores, acho que naquele momento, um qualquer olho destreinado, conseguiria ver as paredes do meu estômago, tal não foi a abertura originada pelo vómito… Isto tudo, claro está, apesar de o tampo ter uma fitita a dizer que tinha sido devidamente desinfectado. Esqueceram-se foi de dizer que tinha sido desinfectado em 1755.

Lá consegui fazer o que tinha a fazer sem virar o barco, e escusado será dizer que dormi vestido e com uma t-shirt a fazer de fronha.

Acho que a única coisa boa do hotel, foi terem-nos deixado fazer o chekin às 8.30 da manhã. Só de dois quarto, o que já não era mau de todo, e deu para bater um choco, na cama do quarto do mê chefe. Agora já posso dizer que dormi com o chefe… Era mais agradável dizer que tinha dormido com a chefe, mas eu não sou homem para fazer dessas coisas. Ainda ponderámos bastante se haveríamos de esquecer o “Money issue” e reservar um qualquer hotel de 5 estrelas tipo Marriott ou o Leela (Cadeia de hotéis de luxo na Índia).

Acordámos por volta do 12.30, e decidimos ir à praia, perguntámos no hotel as direcções e decidimos ir a pé porque parecia perto. E era de facto, mas o caminho era mau de mais. Tudo pobre, com mau aspecto até lá chegar. Quando lá chegámos, voltámos para trás. Porquê? Imaginem uma praia estilo costa da Caparica, cheia de ciganos. Mas quando digo cheia, é mesmo cheia. Magotes deles, a tomar banho vestidos, a passear, a pescar, a beber… etc, não havia lugar para sentar o pandeiro. Voltámos para trás, nesse dia o almoço limitou-se a uma 7up e umas lays… bem catita.




Lá perguntámos por uma praia menos povoada, e fomos levados por um taxista a uma praia bem catita, mas CHEIA de hippies e vacas (e não, não estou a falar nas mulheres dos hippies, estou mesmo a falar nas tão famosas vacas sagradas). Passámos lá a tarde. Demos uns mergulhos bem catitas, à vez para ver se não desaparecia nada, primeiro os homens depois as mulheres, que diga-se em abono da verdade, têm sido uma seca desmedida (atenção que são coleguinhas de trabalho e não a minha rica mulherzinha).

Comemos ainda uns maravilhosos camarões fritos com batata frita e a tão aclamada cerveja Kingfisher (que tem o mesmo nome da companhia aérea, uma vez que foi o pai das cervejas que deu ao filho os aviões porque este não tinha nada para fazer), depois vieram também uns magníficos calamares. Só eu e o chefe. Bem catita, ainda tirei uma ou outra chapa porreira como podem ver.


Saímos da praia já era de noite, ainda estava lá o taxista à nossa espera, que nos levou a um Night Market. Bem catita. O curioso é que 75% das pessoas eram ocidentais. Tanto os compradores como os vendedores. Tipos que ao que parece, largaram tudo e foram para ali viver, qual ermita, a viver do próprio trabalho. Vendia-se tudo. Desde roupa a sushi, passando por chá a especiarias. As cores eram fenomenais. Experiência muito engraçada.



No dia seguinte de manhã, lá voltou o Vicent (guia/ motorista) para nos levar a fazer o city-tour. Passámos por igrejas e templos, que o tipo não conseguia explicar o que era. Ele tinha ido apenas a uma aula, portanto não sabia escrever/ ler, e falava mal inglês. O sonho dele era ir para Londres, e para tal tinha pedido ao pai para pedir o passaporte português, uma vez que este era descendente de portugueses, para ele depois também pedir, e assim conseguiria ir trabalhar para Londres. Tinha 35 anos, e acho que mal chegasse a Londres, seria completamente… não sei bem o que é que lhe aconteceria, mas não me parece que fosse bom.

De qualquer maneira, conseguimos ver a Igreja principal de Goa, e a Igreja onde está o corpo do São Francisco Xavier, que ao que parece continua em bom estado, apesar de estar a diminuir de tamanho. Coisa estranha.

O ponto alto, foi quando fomos visitar a Spice farm. Uma quinta com todas as arvores e plantes de especiarias que possamos imaginar. Muito giro, ver o caju, a noz-moscada, o gindungo e a canela, entre outros. Aqui a visita dava direito a almoço. Não se comeu nada mal. Caril de camarão, arros, papri, ananás como eu nunca comi antes e claro está mais duas Kingfisheres, que uma pessoa destila andar por aqui. Quando estávamos a sair, descobrimos que o carro tinha um pneu furado. Apareceram 12 pessoas para ajudar a mudar o pneu, e sem contar connosco os 4. Ao que parece o pessoa é bastante prestável, tudo no chão a ajudar, até que o carro descaiu, e caiu do macaco. O Vincent tinha-se esquecido de travar. Lá mudaram aquilo e seguimos caminho. (De referir que quando estávamos a chegar, ao estacionar, o tipo mandou uma porradona com o para choques de trás num passeio, que meus amigos, aquilo doeu só de ouvir…)

De tarde fomos a uma praia muito simpática, desta vez mais vazia, pelo menos para o lado que nós fomos, onde encontrei um “casal amigo” que sabia que também estava em Goa, e estava a tentar encontrar desde sábado. Foi bem bom, encontrar alguém com quem se tem mais proximidade. Obrigado amigos, foi bom ver-vos.

Á noite fomos jantar, acabadinhos de sair da praia, a um restaurante indicado pelo Vincent, o “Delhi qualquer coisa que agora não me lembro”. Que ao princípio parecia perigoso, mas depois até correu bem. Mais uns camarões fritos, com pão de alho e uma sopa de tomate. De regresso, estávamos a andar muito bem quando começamos a ouvir um barulho estranho, o carro também com um andar estranho, Mas o Vincent, nem pestanejava, até que passou uma mota, que chamou a atenção. O pneu que tínhamos trocado, estava de novo em baixo. Então não é que o Vincent tinha trocado o pneu pelo velho?!?!??! Ainda hoje não percebi como nem porque, mas o que é facto é que ele voltou a por lá o velho…e escafiou-o todo.

Deixou-nos no hotel manhoso eram umas 23h, mais uma vez dormir vestido. E passou lá a apanhar-nos eram 4.30, para o nosso voo às 6.40. desta vez tudo correu bem. Mais uma vez o avião sempre a horas, e nem dei pelo voo, adormeci, e nem acordei com a aterragem. Coisa que não acontecia desde que saí de Lisboa. Tanto em Londres, como em Mumbai, e em Goa tive dores inacreditáveis na nuca. Mas doi à séria. Petardões de força.

E foi assim o meu fim-de-semana cultural. Para o próximo a ideia é visitar o Taj Mahal. Ainda estou renitente, mas de facto é uma oportunidade única na vida, e as aventuras, apesar de custarem na altura, depois até são engraçadas, quanto mais não seja, para por aqui no blog e os meus filhos lerem daqui a uns anos.

Da próxima vez que me perguntarem se fiz a tropa, a minha resposta vai ser:
- Tropa? Isso é para meninos, eu estive 5 semanas na Índia, em que um dos fins-de-semana, foi em Goa. A tropa é para meninos… do coro!!!!

8 comentários:

Anónimo disse...

Ó Miguelinho!
Isso que passaste é para meninos!! Corrijo , é para MAninos! Eu, num país bem mais perto (Bélgica), tive que dormir num quarto com uma pessoa que cheirava tanto a sovaco que eu nem sequer sentia o cheiro a chulé que ela dizia que vinha dos próprios sapatos! E foi durante uma semana!!! 7 noites!!! E fica sabendo que as vacas têm todo o direito de ir à praia! Um forte abraço. Gonçalo Lucena

Anónimo disse...

Este meu mano não sabe do que está a falar...dormir com cheiro a sovaco não custa nada, se for suficientemente intenso para te fazer cair pró lado!Agora andar aí por um país como este, onde nem sequer sabes se podes comer e beber o que te dão (sabendo que te arriscas a fazer um "number one" por onde devias estar a fazer um number two") é que é de homem!
Ao que parece já sabes que vou dar o nó. Já estou há uns dias para te ligar para fazermos um dos nossos almocinhos e contar-te, mas soube ontem que andas a visitar as antigas colónias portuguesas!! E ainda tens de conhecer a minha cara-metade!!Abraço, Bernas

Anónimo disse...

Miguel, meu querido! Isto em Portugal é mesmo assim..quando alguém se queixa...há sempre alguém que tem uma história pior...!Um Veterinário que se queixa do cheiro a sovaco da colega, faz-me pensar...e o cheiro a "bosta" que ele trás para casa na roupa que a mãe dele tem que lavar...!!!(quando não vem mesmo a "bosta" inteira, agarrada à roupa!)Mas não é este o "Comentário que eu quero fazer...já faço outro!
Bjs. Tia Sunta

Anónimo disse...

Miguel.

Não consigo parar de rir quando me lembro da trapalhada das vacas por ali, sagradas, e daquela gente a tomar banho cheia de roupa! E encharcados ficavam!!?

Que pagode deve ter sido a muda do pneu! Que cheirete!
madalena

Anónimo disse...

E que tal o cheiro do Sótraques?

Anónimo disse...

Epá, quem se queixa assim nunca teve uma hora e meia numa reunião de condóminos na casa de um pobre e velho casal que nunca abriu uma janela em casa desde o início dos anos 50...

Anónimo disse...

Teve muito azar com o hotel. Os hotéis de *** em Goa são bastante bons e as pessoas muito prestáveis e simpáticas. O património cultural é fantástico, pena que não tenha visto o Bairro das Fontainhas, típico colonial português e património da unesco. praia de Candolim e Mandrem no norte que é um paraíso selvagem. É melhor voltar lá e bem aconselhado. vai gostar!Nasci lá e de 2 em 2 anos passo lá umas duas semanas, sempre com amigos diferentes que adoram. nini

Maichel disse...

Muito obrigado pela mensagem. Vou voltar a Goa já em Outubro por isso, se tiver algumas dicas de hoteis e mais sítios/ praias, por favor não se acanhe, é sempre bom ter referencias, e de facto estou sem saber para que hotel ir.